quinta-feira, 23 de abril de 2020

5ª feira da 2ª semana da Páscoa: "Quem crê no Filho tem a vida eterna"



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At 5,27-33
Jo 3, 31-36

Nesta quinta-feira da Segunda Semana da Páscoa a liturgia termina a leitura do capítulo 3 do evangelho segundo são João. Após ouvirmos o diálogo de Jesus com Nicodemos, hoje nos deparamos com o último testemunho de João Batista sobre Jesus. A perícope da liturgia não mostra o que originou aquele discurso de João. Na verdade, seus discípulos o questionam por que Jesus também estava batizando. O batismo era uma atividade feita por João, por isso o nome Batista, aquele que batiza. João dá, então, as suas palavras sobre Jesus, aquele que vem do alto e que está acima de todos, inclusive dele próprio.
O autor do quarto evangelho faz questão de escrever a origem de Jesus, mas de uma forma diferente de Mateus e de Lucas. Mateus escreve a judeus convertidos ao cristianismo. Por isso a preocupação do autor é mostrar que Jesus é o novo Moisés, da descendência de Abraão, filho de Davi. Assim, Mateus prova à comunidade que Jesus é o Messias esperado.
Lucas, entretanto, destina seu evangelho a uma comunidade com origens helenísticas, mostrando Jesus com características muito humanas, já que Ele é o filho de Adão.
João, por sua vez, escreve já no final do primeiro século, quando as perseguições aos cristãos começam a acontecer e o povo, um tanto quanto distante do tempo de Jesus, não se lembra quem Ele é. Por isso João afirma que Jesus vem do alto, vem de Deus, ele é o filho único de Deus.
O evangelista menciona categorias espaciais para falar de Jesus, que vem “do alto”, e a humanidade, que vem “da terra”. Há uma intenção existencial. Nenhuma palavra de alguém “da terra” se compara à de alguém que vem “do alto”. Jesus é, então, o único revelador do Pai.
“Da terra” e “do alto” referem-se a dimensões de finitude e infinitude. Finitude se relaciona a tudo que é terreno, da carne. A infinitude diz respeito às coisas celestes, ao espírito. O Batismo nos abre à infinitude, às coisas de Deus, já que Ele nos dá o dom da fé, que nos leva à vida eterna. É justamente pela fé naquele que vem do alto e que viu o Pai que podemos alcançar as coisas do alto, a vida eterna. Dessa forma, compreendemos que todo o agir de Cristo está em comunhão com o Pai.
A carta de São Paulo aos Colossenses exorta aquela comunidade a “buscar as coisas do alto. Vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Col 3, 1-2). Esta é a condição para os batizados, é o compromisso e ao mesmo tempo a graça do banho batismal. Buscar as coisas do alto é dar dimensão divina, é divinizar, tudo aquilo que fazemos. Não se trata de isolar-se do mundo, mas estar no mundo para santifica-lo, para salvá-lo. É possível dizer: ter os pés no chão e olhar para o alto.
O cristão, pelo batismo, é chamado a morrer dia a dia para o pecado, para a vida velha. No versículo 8, Paulo orienta as coisas do mundo a serem abandonadas: ira, exaltação, maldade, blasfêmia, conversa indecente. Paulo chama essa atitude de “desvestir-se do homem velho” para revestir-se do “homem novo”, isto é, de “compaixão, bondade, humildade, mansidão”, suportando, perdoando... Mas sobretudo revestir-se da caridade, que é o “vínculo da perfeição”. Esta é a veste batismal, com a qual o neófito é revestido durante o rito do batismo.
Mas o trecho de hoje diz que “quem crê no Filho tem a vida eterna. Quem recusa crer no Filho não verá a vida”. Nas traduções para o italiano e para o inglês encontramos “quem desobedece o Filho não verá a vida”. Ou seja, a crença está diretamente ligada à obediência. Aquele que crê no Filho, obedece a Ele.
A grande promessa é a vida eterna, sobre a qual discutimos na terça-feira. A vida eterna é nossa meta, é a meta de todo cristão. O fechamento, a recusa a esta meta é também o fechamento a Deus, o fechamento a nós mesmos. O texto termina com uma advertência àqueles que, por outro lado, não aceitam Jesus. “A ira de Deus permanecerá sobre ele”. No mesmo trecho da carta aos Colossenses, Paulo esclarece o que causa a ira de Deus. O que causa a ira de Deus é o pecado contra seus filhos, como as injustiças, os maus desejos, a impureza, as paixões.
Tudo aquilo que ameaça outros filhos de Deus, nossos irmãos, provoca a ira de Deus, que nunca é levada a cabo, já que Deus jamais proporciona o mal, Deus jamais se vinga, pois Ele é amor e misericórdia, lento para a cólera. Amém.

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